domingo, 31 de outubro de 2010

Usa-se o tempo para atenuar o amor.
Que, em vez disso, multiplica-se.
Como células de um câncer.
Até matá-la.
(Lia Araújo)


Eu deveria estar gritando. Deveria estar me rasgando. Deveria estar chorando descontroladamente e implorando por ajuda, por socorro, por algo que me faça respirar. Mas não. Aqui estou eu, na arte de ficar bem. A arte de ostentar. Ostento ser feliz, ser saudável. Então tá. Vamos ver se eu acredito. Haha. Treinei tanto pra não sentir nada que agora eu realmente não sinto. Mesmo nos momentos de maior desespero, eu não sinto nada. Apeas respiro, e respiro, sem sentir dor, nem alegria. Eu sei que isso está me destruindo, e de alguma forma, quando eu perceber será tarde demais. Eu sei que, quando eu der por mim, estarei tão destruída que talvez não tenha mais volta. Mas talvez eu nunca perceba o que aconteceu comigo. Eu estou destruída, tão destruída que não consigo nem sentir essa destruição dentro de mim. E eu só sinto vontade de chorar, de gritar, de implorar por ajuda, de implorar por alguém. Mas ao mesmo tempo, eu não consigo. Estou me tornando um poço seco e vazio...

Listening
Você poderia estar feliz e eu não saberei. Mas você não estava feliz no dia em que te vi partir. E todas as coisas que queria não ter dito são tocadas repetidamente até tornarem-se loucura na minha cabeça. É muito tarde para te lembrar de como nós éramos? Mas não os nossos últimos dias de silêncio, gritos, borrões. A maior parte do que eu lembro me faz certo de que eu deveria ter impedido você de sair pela porta. Você poderia estar feliz, eu espero que esteja. Você me fez mais feliz do que jamais fui. E de alguma maneira tudo o que eu tenho cheira a você. E pelo mais curto momento, tudo não é verdade. Faça as coisas que você sempre quis sem eu lá para te impedir, não pense, apenas faça. Mais do que qualquer coisa eu quero ver você tirar uma gloriosa mordida do mundo inteiro...