quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

30 dias escrevendo... Dia 02 (algo que me contaram e eu nunca esqueci)

A infância do meu pai é permeada de histórias que remetem a outra realidade. Eles eram do sertão, e meu pai perdeu o meu avô quando tinha 12 anos. Ele teve que assumir a família, com um irmão de 11 e a mãe. O pai morreu de câncer.
Ele conta que teve uma irmã mais velha que teve doze filhos. Destes filhos, alguns eram mais velhos e outros mais novos que meu pai. Mas a irmã dele não gostava que os filhos "se misturassem" com os tios pobres. Dizia pra elas que "quem anda com os porcos, come lavagem".
Sempre fui uma defensora dos pobres e oprimidos e não sei o quanto histórias como essa colaboraram para formação do meu caráter neste sentido. Mas é muito triste saber que tive uma tia tão esnobe.
Minha tia morreu de câncer antes mesmo de eu nascer, então não a conheci. Sei que ela não era a unica. No nordeste, só uma coisa era mais forte que preconceito de classe, e era o racismo. 
A minha avó se casou com o meu avô quando ele era viúvo e já tinha essa filha e alguns netos, minha avó era mais nova, com seus vinte e poucos anos. Ela teve algumas irmãs e uma delas perdeu o contato. O motivo foi que ela se apaixonou por um homem negro, e eles tiveram que fugir para que ele não morresse. Eu gostaria muito de saber como foi a vida dela. Como ela era. Minha avó morreu sem ter notícias. 
A vida, ela é muito louca, e é uma pena que o ser humano seja tão ruim a ponto de reproduzir tantos preconceitos.